Do universo de tipografias famalicenses, a Tipografia “Minerva” foi, sem dúvida, a mais emblemática. A sua história começou por volta de 1883, quando três irmãos, naturais do concelho de Alijó, decidiram fixar residência em Vila Nova de Famalicão. Gaspar Pinto de Sousa, o mais velho, e António Pinto de Sousa estabeleceram-se no comércio local com uma loja para a qual acabaram por chamar Manuel Pinto de Sousa, o mais novo dos três, então a trabalhar na cidade do Porto. A divisa adotada para a loja “Seriedade e Barateza”, a avaliar pelo rápido crescimento do negócio nos anos seguintes, teve, certamente, um impacto muito positivo na angariação de mais clientes, revelando-se, já nessa época, um excelente spot publicitário. A partir de 1887 começava a desenhar-se o projeto de uma tipografia com a compra de uma “microscópia máquina manual de cartões de visita”[1]. Três anos mais tarde, no início da década de 1890, o dinamismo empresarial de Gaspar e Manuel Pinto de Sousa levou-os a expandir o negócio com um avultado investimento na compra de uma Marioni, a máquina de impressão mais avançada na época. Lançavam-se assim num projeto bem mais arrojado do que a simples loja comercial onde se vendia de tudo um pouco.

Quando em Agosto de 1895 saiu para as bancas o primeiro número do jornal “Estrela do Minho”, propriedade de Manuel Pinto de Sousa, a Tipografia Minerva era já responsável pela composição e impressão da revista “Nova Alvorada”, do semanário “O Porvir”, e ainda de um quinzenário humorístico “O Leme”.

No ano seguinte, provavelmente resultado do alargamento da carteira de encomendas e de uma situação financeira mais folgada e sustentável, a tipografia abandonou a “Loja dos Rapazes”, no Campo da Feira (atual Praça D. Maria II), para se instalar na rua de Santo António, na “casa que foi do antigo theatro e onde tem estado a officina de tamancaria da esposa do sr. Albino Folhadela”[2]. Quanto ao estabelecimento comercial seria também transferido para a mesma morada em outubro de 1897, com a designação de “Estabelecimento de Gaspar Pinto de Sousa & Irmão”.

Em 09 de março de 1912 entra nos serviços da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão um requerimento de Manuel Pinto de Sousa a pedir licença para construir uma casa na Avenida (hoje Rua) Barão da Trovisqueira, o qual foi aceite, de modo a albergar a Tipografia Minerva. A edificação do edifício demorou pouco mais de um ano. O jornal “Estrela do Minho” durante o mês de setembro e outubro de 1913 deu à estampa várias notícias sobre a inauguração deste edifício: “Deve ficar nesta semana instalada na sua nova casa a nossa Tipografia Minerva, agora situada na Avenida Trovisqueira” (edição de 07 de setembro de 1913, página 01); “Já funcionam na sua nova casa da Avenida Trovisqueira, embora em parte ainda, as nossas oficinas tipográficas e de encadernação. Continua porém a firma Gaspar Pinto de Sousa & Irmão com o seu antigo estabelecimento na rua 5 de Outubro, onde também se tomam encargos de impressos e livros para encadernar” (edição de 14 de setembro de 1913, página 02); “O pessoal das nossas oficinas, da sua nova casa faz hoje a sua inauguração, encontrando-se esta, por esse motivo, em exposição para o povo famalicense” (edição de 12 de outubro de 1913, página 01).

Acompanhando de perto os progressos tecnológicos nas artes gráficas, procurou sempre equipar-se com as máquinas mais inovadoras de forma a posicionar-se na vanguarda das tipografias da zona norte do país. Em 1932 passou a estar equipada com uma máquina de composição automática de fabrico alemão Typographia Universal, a primeira, segundo noticiou o jornal “Estrela do Minho” a ser adquirida por uma tipografia nacional[3].

Até ao seu encerramento, na década de 1970, imprimiu, pelo menos, 27 títulos da imprensa periódica famalicense, a juntar a tantos outros títulos de periódicos de concelhos do norte do país, além de centenas de publicações das mais diversas temáticas. O “Jornal de Famalicão” e o “Boletim da Santa Casa da Misericórdia de Vila Nova de Famalicão” foram os últimos periódicos a serem impressos nesta tipografia.

Nas últimas décadas, no edifício da Tipografia Minerva funcionou uma casa comercial e uns armazéns de vinhos, encontrando-se devoluta há alguns anos.

[1] “Estrela do Minho”, edição de 27 de outubro de 1901, pág.01 – “É simples a história da Typographia Minerva: Criada em 1887 com uma microscopia machina manual, de cartões de visita foi-se alando, desenvolvendo tenazmente, até chegar a fazer trabalhos para as principaes cidades do paiz, empregando pessoal bastante para poder atender a innumeros trabalhos ao mesmo tempo (…)”.

[2] Jornal “O Porvir”, edição de 07 de outubro de 1906.

[3] Jornal “Estrela do Minho”, edição de 22 de maio de 1932.